A farmacêutica Farmalog decidiu congelar a abertura de oito farmácias este ano em Angola, um país a braços com uma crise que já está, o que aliás não é novidade, a extravasar o sector petrolífero e as contas públicas e já chegou à economia real.
E m declarações à Lusa, o presidente da NBC Medical, a farmacêutica portuguesa que abriu a angolana Farmalog há dois anos, explicou que “o objectivo era ter 16 farmácias em funcionamento até ao final do ano, mas a crise obrigou-nos a repensar os planos e decidimos abrir apenas duas, parando nas oito farmácias em Angola”.
Nuno Belmar da Costa afirma que a empresa optou por “atrasar os orçamentos para este ano a ver onde param as modas”, sublinhando que a farmacêutica, nascida há seis anos em Portugal, “tem crescido sempre, mas este ano ainda vamos ver se optamos por ser conservadores ou optimistas”.
O problema de Angola já não está só no petróleo barato e começa a chegar à economia real, diz o gestor da empresa que factura 27 milhões de euros em Portugal e mais 15 milhões de dólares em Angola: “A crise é mais que visível na economia real, as pessoas vão começar a sentir quando aumentarem os preços, e isso já está a acontecer, porque a taxa de câmbio oficial já mostra a desvalorização, os preços começam a reflectir essa subida de 10%, e isso arrasta a inflação”.
Para a Farmalog, os preços baixos do petróleo não são problema, mas a falta de divisas é uma questão bem mais complicada. Ao contrário de muitas empresas que têm expatriados a trabalhar em Angola, a NBC Medical optou por pagar os salários aos 83 trabalhadores em kwanzas, “porque nunca houve problema em tirar de lá o dinheiro, mas agora começam a ficar preocupados porque não conseguem transferir para o país de origem”.
Nuno Belmar da Costa contou que desde Novembro que a empresa aguarda autorização do Banco Nacional de Angola para enviar dólares para Portugal e assim pagar os medicamentos que são enviados para o país.
“Temos pagamentos agendados de Angola para Portugal desde Novembro que estão pendurados na banca comercial e que continuam a aguardar a disponibilidade de divisas, ou seja, temos o dinheiro na conta da Farmalog, em Angola, à espera de ser transferido para pagar os medicamentos que a NBC Medical, em Portugal, exporta para Angola”, explica.
A NBC Medical é uma empresa portuguesa criada há seis anos, tendo facturado 28 milhões de euros em Portugal no ano passado. Emprega 43 pessoas em Portugal e exporta a totalidade da sua produção de medicamentos e produtos clínicos, sendo Angola o destino de cerca de 50% das exportações.
Há dois anos, criou a Farmalog, que teve uma facturação de 15 milhões de dólares em 2014 e emprega cerca de 80 pessoas, detendo ainda seis farmácias, uma empresa de reagentes e diagnósticos e outra de logística grossista farmacêutica nas províncias, com um armazém em Benguela e outro em Cabinda.